Ferdinand de Saussure: Quem foi o “improvável” pai da linguística?, segundo Marcos Bagno

Por Raquel Alves e Paloma Oliveira

Estudantes do Curso de Letras do IFMG Campus Congonhas

Autor da obra Curso de Linguística Geral, publicada postumamente em 1916, Saussure é um dos nomes mais conhecidos e comentados da linguística. No entanto, seu título de “pai da linguística” e sua popularidade são constantemente questionados, principalmente porque ele não teve consciência da existência desse livro, um compilado de seus estudos e de suas pesquisas.

Quem foi Ferdinand de Saussure?

Nascido em novembro de 1857, em Genebra, na Suíça, Ferdinand Mongin de Saussure descende de uma importante e influente família de intelectuais e políticos suíços. Em 1876, inspirado pelo trabalho de Franz Bopp com a gramática histórico-comparativa, inicia na área da linguística com o estudo das línguas Indo-europeias na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Em 1878, Saussure publicou sua dissertação sobre o sistema primitivo das vogais nas línguas indo-europeias, uma extensa monografia de 326 páginas, que o tornaria memorável.

Na França, esse trabalho (Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes) foi elogiado e saudado como a obra de um jovem prodígio. Em Paris, o latinista Louis Havet, que tanto elogiou o trabalho de Saussure, passou a difundi-lo no establishment acadêmico de Paris, onde a análise proposta na dissertação deixa uma forte marca até o início do século 20.

Entretanto, na Alemanha, as reações em relação ao Mémoire foram conflituosas, uma vez que os antigos professores de Saussure encontraram naquelas páginas o que consideraram ser as ideias, hipóteses e intuições deles expostas sem o devido crédito aos docentes. Por ser impossibilitado de se defender em um foro público, esse período de acusações causa no ainda jovem Saussure, de apenas 21 anos, um certo desconforto e desalento. Acredita-se que esse episódio foi o grande motivo para que as publicações de Saussure se restringissem apenas a pequenas notas filológicas no boletim da Sociedade de Linguística de Paris.

Alguns anos depois, em 1881, Saussure produziu sua tese de Doutorado sobre a construção do genitivo em sânscrito. Com apenas 95 páginas, o trabalho foi considerado por muitos, na época, “um simples artigo técnico”, uma obra sem grande inovação. Ainda em 1881, Saussure foi nomeado professor na École Pratique des Hautes Études em Paris, onde lecionou gótico e alto-alemão antigo. Em 1891, retornou à Suíça, com o fim de assumir a cátedra de linguística de sânscrito e de indo-europeu, na Universidade de Genebra. Em 1906 assumiu, também, as aulas da disciplina de linguística geral. Nesse período, ofereceu três cursos de linguística geral, que resultariam no livro Curso de linguística geral.

A partir de 1910, com a saúde cada vez mais debilitada, Saussure reduz suas atividades docentes e, em fevereiro de 1913, aos 55 anos, falece, no Vuffens-le-Château, em Genebra, Suíça.  Em 1916, após sua morte, dois de seus alunos, Albert Sechehaye e Charles Bally, tiveram a iniciativa de organizar as notas manuscritas e os ensinamentos de Saussure em uma publicação intitulada Curso de Linguística Geral, obra que possui uma importância ímpar para a linguística, pois, além de estudar a língua como elemento fundamental da comunicação humana, também estipula a base de todos os estudos linguísticos que se desenvolveram posteriormente, sendo considerada decisiva para o estabelecimento da linguística moderna.

O estruturalismo de Saussure

O estruturalismo é um método de análise científica das ciências humanas e sociais que defende a existência de uma base estrutural. Esta precisa ser entendida antes para, depois, se compreender como o conhecimento ocorre em determinada área. Assim, Saussure não acreditava em uma formação puramente histórica da linguagem. Para o linguista, deveria existir uma estrutura comum da linguagem, indiferente ao idioma. Essa estrutura central da linguagem está embasada em dois elementos básicos: o significante e o significado. O primeiro é a expressão material de uma palavra, isto é, o que ela representa no mundo. Já o segundo é o conceito representado pela palavra.

Fonte: BAGNO, Marcos. Uma história da linguística. São Paulo: Parábola, 2023.

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