A Arquiteta e Urbanista Giani Paula Cardoso Santos relata sua trajetória desde seu ingresso no curso técnico em Edificações em 2013

Por Equipe ComuniCong 2022

A arquitetura tem papel de transformar espaços, sejam eles públicos, privados, luxuosos ou simples. O urbanismo, de estudar e intervir nos ambientes da cidade de modo que sejam mais democráticos e igualitários

Giani Paula Cardoso Santos ingressou no curso Técnico Integrado em Edificações do IFMG campus Congonhas em 2013 IFormou-se em 2016. Nesta entrevista ao ComuniCong, a ex-aluna relembra como é estudar na instituição e como essa formação técnica influenciou a sua profissão de arquiteta e urbanista, abarcando a importância de relações afetivas, grade curricular, estágios, expectativas para sua carreira profissional e responsabilidade política para que os benefícios de sua área de atuação possam contemplar um público mais amplo no Brasil.  

O IFMG possui um estilo de ensino extremamente complexo, então o processo de adaptação pode ser demorado, mas também existem relações sociais que podem tornar esse período de aprendizagem mais leve e dinâmico. Nos três anos em que você estudou no IF, houve algum episódio que marcou sua trajetória na instituição?

R. Muitos episódios! A rotina dos cursos integrados no IFMG realmente é exaustiva e exige muita dedicação, mas as relações de amizade que estabelecemos transformam boa parte desse processo em diversão. Na minha época, era comum que fizéssemos quase tudo em grupo: estudar na biblioteca durante os horários de almoço, participar de monitorias nas vésperas de prova, passar o tempo conversando ou tocando violão atrás do Prédio 01… E essas relações de amizade permanecem vivas até hoje, quase oito anos depois da formatura. Tenho contato constante com alunos da minha turma; seja online, seja presencialmente.

Enquanto ex-aluna do curso Técnico em Edificações do IFMG, você acredita que houve alguma influência dele para sua decisão de fazer Graduação em Arquitetura e Urbanismo?

R. Com certeza. O Técnico em Edificações foi o primeiro contato mais profundo que tive com a área de construção civil. Dentro do curso, percebi que gostava do tema e que poderia me direcionar para o âmbito de criação dos projetos ou para o cálculo de suas estruturas e instalações complementares. Nesse ponto, considero que a grade horária do curso técnico foi de extrema importância para minha decisão. Tive excelentes professores nas matérias e nenhuma delas me desagradava, mas notei que gostava mais do âmbito criativo da edificação, de conceber sua distribuição e sua forma.

O que levou você a escolher o curso Técnico em Edificações e o curso de Arquitetura e Urbanismo? Quais foram os percursos dessa escolha?

R. A escolha pelo curso Técnico em Edificações aconteceu um pouco no risco… Não é possível ter certeza se vamos gostar antes de começar, não é?! Mas eu tinha alguma proximidade com a área da construção, porque meu pai trabalhava como projetista na época. Me interessava um pouco pelos processos que acompanhava e isso foi suficiente pra escolher o curso. A escolha pela Arquitetura e Urbanismo, por sua vez, foi mais segura. Com o desenvolvimento do curso técnico, como mencionei, consegui me direcionar melhor e perceber que poderia me realizar nessa profissão. Fiz o ENEM em 2015, ano em que eu concluiria o curso no IFMG (que acabou se estendendo por causa das greves), e fui aprovada em arquitetura pela Universidade Federal de São João del-Rei. Em 2016 me mudei para estudar e, nos primeiros períodos da graduação, observava se realmente gostava do que estava fazendo. Por sorte, o retorno foi muito positivo.

Como tem sido a sua trajetória no campo da Arquitetura e do Urbanismo nesses anos após a sua formação?

R. Eu me formei recentemente, mais ou menos na metade do ano de 2021. Dessa forma, passei o restante desse mesmo ano trabalhando em um escritório de arquitetura em São João del-Rei, onde eu já atuava há alguns meses. Esse tempo foi fundamental para que eu me estruturasse um pouco profissionalmente e aprendesse alguns pontos importantes antes de executar meus próprios planos. No começo de 2022, então, eu retornei para Conselheiro Lafaiete, minha cidade natal, quando decidi trabalhar em parceria com meu pai, que já tinha um escritório de Engenharia Civil. Por serem áreas complementares, enxerguei uma boa oportunidade na parceria com ele, transformando o escritório de modo a atender as áreas de Arquitetura e Engenharia. Hoje sou responsável pelos projetos arquitetônicos e de design de interiores, enquanto meu pai trabalha com os projetos estruturais e complementares. Ainda tenho pouco tempo de carreira, mas recentemente senti a necessidade de planejá-la melhor para os próximos anos. Pretendo continuar no escritório, mas estou em busca de alguns cursos e capacitações necessárias para alcançar resultados ainda melhores. Acho válido salientar nessa resposta a importância dos estágios e projetos de extensão na graduação, justamente para adquirir confiança na fase inicial da profissão. Durante o curso, passei pela empresa júnior de arquitetura e por estágios dentro da universidade, bem como em escritórios de arquitetura. Também tive uma experiência no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Todas essas experiências foram fundamentais para minha formação.

Você acha que o ramo de Arquitetura e Urbanismo tem muitos problemas em nosso país? Acredita que algo poderia ser feito para contemplar mais pessoas e instituições (públicas e privadas), inclusive parte da população com menor poder aquisitivo?

R. Acredito que, como algumas outras profissões, a arquitetura é conhecida por ser mais próxima da “elite”. Entendo que existem razões para que essa imagem seja construída, mas tudo o que eu aprendi sobre arquitetura diz exatamente o contrário disso. A arquitetura tem papel de transformar espaços, sejam eles públicos, privados, luxuosos ou simples. O urbanismo, que não se separa dela, tem função de estudar e intervir nos ambientes da cidade de modo que sejam mais democráticos e igualitários. Sendo essas as definições básicas da profissão, torna-se quase irônico que alguns profissionais atuem com outros focos. Para além da posição elitista de alguns arquitetos, outros elementos corroboram para essa estigmatização, como a lógica capitalista do mercado imobiliário. Esse tema renderia uma discussão muito longa, então fica para uma próxima ocasião! De toda forma, várias medidas poderiam ser tomadas para aproximar os benefícios da arquitetura às classes de menor poder aquisitivo. Todavia, antes de sugerir novas ações, acredito que o cumprimento de algumas legislações existentes resolveria boa parte da situação. O Estatuto da Cidade, por exemplo, é uma lei que abarca incontáveis métodos que garantiriam um espaço urbano mais justo. Ele é respeitado internacionalmente, utilizado até como referência nas legislações urbanas, mas não é executado em plenitude nos nossos municípios. Temos, ainda, a Lei nº11.888 que assegura às famílias de baixa renda assistência de um arquiteto para construção de suas moradias. Esse processo ocorre gratuitamente, desde que seja organizado pelos órgãos públicos responsáveis, o que infelizmente não acontece.

Quais dicas você pode dar para quem deseja ingressar nessa área? 

R. Antes de qualquer coisa, é necessário ter disposição! A arquitetura e o urbanismo são funções muito bonitas, mas demandam dedicação e comprometimento. Precisamos pensar no bem estar do outro e entender a responsabilidade que está envolvida em nossas decisões profissionais, já que quase sempre estamos lidando com o sonho de alguém. Ademais, nossas escolhas de projeto impactam na rotina dos usuários do espaço, na paisagem circundante, nos fluxos de trânsito, na dinâmica de uma rua, de um bairro, e por aí vai… Respeitando esses princípios, não é difícil se tornar um bom profissional. As dicas são: respeitar o processo de aprendizado; usar da empatia como ferramenta de trabalho; apreciar os espaços que temos em nossa volta. Não é necessário ser nenhum artista ou ter uma mente super criativa… tudo isso se aprende na prática.

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