Sara Azevedo, candidata ao Senado por Minas Gerais, concede entrevista ao ComuniCong

A minha atuação no Congresso não será motivada pela espetacularização da política, tampouco será guiada conforme meus interesses eleitorais

Sara Azevedo é professora da rede estadual de Minas Gerais. Nascida em Belém do Pará (PA), é formada em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (Uepa). Mudou-se para Belo Horizonte em 2010, quando ingressou na rede de educação de Minas. Publicou os artigos “Uma contribuição ‘freiriana’ para uma escola colorida” e “‘Feminização do Trabalho’, educação e o papel da escola”. Foi candidata a deputada federal (2014), vereadora (2016 e 2020) e vice-governadora (2018). Filiada ao PSOL há 15 anos, participou da criação dos movimentos políticos “Juntos” e “Juntas”. É vice-presidente do PSOL-MG e é diretora da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco. Foi coordenadora e fundadora do projeto “Emancipa” em Minas, que oferece cursos de pré-vestibular e de idiomas a jovens da periferia de Belo Horizonte, Ibirité, Manga, Montes Claros, Pouso Alegre e Uberlândia.

Dependendo do Presidente da República que será eleito, você já decidiu se seria uma senadora da base do governo ou da oposição?

R. Caso Lula seja eleito, o meu posicionamento será de independência. Entendo que apenas elegê-lo presidente não será o suficiente para retomarmos a normalidade institucional e o caminho do desenvolvimento socioeconômico. Para mim, devemos derrotar o bolsonarismo nas urnas e nas ruas. O Legislativo tem papel fundamental nisso, na investigação, dentro das comissões de ética, de parlamentares que incentivam o discurso de ódio, na aprovação de projetos sociais, na obtenção de recursos para obras sociais e na representação das demandas da população. Por isso é importante que tenhamos um grupo de parlamentares da esquerda grande e unido. Em caso de governo Lula, apoiarei o presidente nas pautas em que a população será beneficiada. Já os projetos que sejam fruto de concessões à direita e que beneficiem empresários, estarei do outro lado da disputa — defendendo o interesse da população e pressionando para que o governo se mantenha à esquerda. Se, para a nossa infelicidade, Bolsonaro se reeleja, estarei na oposição. Brigando para que as demandas da população sejam ouvidas, defendendo o interesse público e o desenvolvimento social.

Como é ocupar um ambiente machista e preconceituoso como o ambiente político? A senhora enxerga uma mudança positiva na diversidade de nossas vozes representantes, ou ainda temos um longo caminho pela frente a percorrer em relação à falta de representatividade política?

R. Nós avançamos muito. Ampliamos a diversidade de vozes na política, mas ainda temos um longo caminho pela frente no fortalecimento dessas vozes. Ainda somos minoria dentro dos espaços de decisão e diversos partidos ainda não investem na formação política dessas pessoas. Ainda é bastante comum vermos pessoas que pertencem a grupos minorizados negarem tais grupos. No governo Bolsonaro, tivemos casos extremos como o de Sérgio Camargo, que, apesar de ser negro, atacou por diversas vezes a comunidade negra; ou de Damares Alves, que condenou o aborto até no caso em que uma criança engravidou após ser vítima de estupro. Mas não é só nesses extremos. Temos também figuras como Simone Tebet, que rejeita o feminismo, ou de Marcelo Calero (Cidadania-RJ) e de Eduardo Leite (PSDB-RS), que se recusam a assumir a defesa da pauta LGBT+ em suas atuações na política. Dentro das estruturas partidárias, a representação ainda tem muito o que avançar também. São raras as legendas que dão espaço para que pessoas de grupos minorizados assumam postos de comando ou mesmo que invistam verdadeiramente na construção dessas lideranças.

Em um país como o nosso, onde temos a política composta, na maioria, por homens, como é atuar nessa área sendo uma mulher com voz ativa, principalmente, na educação?

R. É bastante difícil. Conquistei o meu espaço com muita luta e perseverança, e ainda resisto muito. Já recebi ameaças por causa da minha atuação política e os ataques nas redes sociais são constantes. Ser mulher, LGBT e militante da educação incomoda. Tentam nos calar com a hostilidade. Isso sem contar as tentativas de desmerecer o nosso trabalho, de dizer que não somos suficientes no que nos propomos a fazer. Mas, ao longo da minha trajetória, consegui me fortalecer, entender os machismos velados e saber responder a esse tipo de abordagem intimidatória.

Tendo em vista a desigualdade social enfrentada pelos mineiros, com um índice de pobreza superior a 25%, quais ações ou projetos podem ser adotados para que esse número diminua?

R. Primeiro, temos que garantir que o Auxílio Brasil seja um programa permanente. A partir disso, conseguimos reativar a economia e desagravar a crise socioeconômica que vivemos atualmente. Em um segundo momento, temos que lutar pela construção de políticas sociais que garantam a emancipação da população. Temos que voltar a colocar a educação como uma prioridade do governo. Garantir que o acesso aos ensinos técnico e superior públicos e de qualidade seja universal. Além disso, temos que reforçar os investimentos em saneamento básico, saúde, políticas de assistência social. A população precisa ter acesso aos bens e serviços básicos, que oferecem o mínimo de uma vida digna para as famílias. Só assim as pessoas poderão ter estrutura para se qualificarem, planejarem a vida e terem fé no futuro. Em outra via, o Estado deve incentivar novos setores produtivos e investir em desenvolvimento tecnológico e infraestrutura. Só assim haverá geração de renda e poderemos chegar ao pleno emprego.

Como um(a) senador(a) eleito(a) por MG deveria julgar o presidente da República por crime de responsabilidade, observando os critérios legais e a opinião pública?

R. O grande problema desse tipo de processo é que a política e a justiça se misturam. Nem sempre a análise é objetiva e os interesses eleitoreiros se sobressaem ao senso de justiça. Vimos isso acontecer com o golpe de 2016, em que a Dilma Rousseff sofreu um impeachment sem ter cometido crime (inclusive recentemente ela foi inocentada pelo TCU em relação à acusação das pedaladas fiscais), e com a falta de reação do Congresso em relação aos diversos crimes de responsabilidade cometidos por Jair Bolsonaro. Como senadora, serei comprometida com a Justiça. A minha atuação no Congresso não será motivada pela espetacularização da política, tampouco será guiada conforme meus interesses eleitorais. Como parlamentar, me guiarei pela representação das demandas da população e pelo cumprimento da Constituição.

Nota: O ComuniCong entrou em contato com todos os candidatos ao Senado por Minas Gerais que preencheram o campo “site” no registro oficial do TSE (https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/) e publicará, em parceria com o Hiper Teia, todas as entrevistas que nos serão concedidas, respeitando a ordem de resposta ao nosso contato.

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