Por Amanda Matos /Estudante do Curso de Licenciatura em Letras do IFMG-Congonhas.
As mulheres escrevem e leem romances, assim como os homens leram e escreveram romances, desde a Antiguidade Clássica e o fazem até hoje
O Morro dos Ventos Uivantes é um dos clássicos da literatura norte-americana. Entretanto, a autora Emily Bronte precisou esconder-se por trás do pseudônimo Ellis Bell (nome masculine), assim como ocorreu com Joanne Rowling, que teve que assinar a saga Harry Porter apenas com suas iniciais.
Sabemos que vivemos em uma sociedade machista e patriarchal e a falta de representatividade feminina na literatura, infelizmente, é um assunto pouco abordado, haja vista o que ocorreu com Bronte, em 1847, e o longevo ostracismo literário que lhe foi imposto.
Essa falta de representatividade vem sendo bastante discutida em diversas mídias, especialmente no blog Não me Kahlo, cuja pauta é feminista. De acordo com a autora do blog, a literatura foi feita, durante muito tempo, por homens brancos, héteros e de classe média, o que fez com que quaisquer outros que não se enquadrassem nesse “padrão” fossem considerados excluídos. A fim de ilustrar tal afirmação, basta pesquisarmos o termo “maiores escritores da atualidade”, que encontraremos uma lista composta, em sua imensa maioria, por homens, mesmo que apareçam algumas mulheres, como Clarice Lispector e Virginia Woolf, por exemplo.
Vale destacar que, embora venham surgindo novas escritoras que não precisam esconder suas identidades por meio de pseudônimos e/ou siglas, como Suzanne Collins, Rupi Kaur e Ana Paula Maia, ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura, dentre outras, o protagonismo literário feminino ainda precisa ser reafirmado. Com o advento da internet, pode-se dizer que esse cenário melhorou um pouco, pois houve uma maior disponibilização de sites focados em publicação de histórias originais e livros digitais, como os e-books.
Todavia, faz-se relevante destacar que apesar de o mercado ter se aberto, principalmente por meio das redes digitais, ainda existe um tabu muito forte em relação às obras escritas por mulheres, porque um número considerável de pessoas acredita na falácia de que as mulheres só leem ou escrevem romances. Desse modo, esquecem-se de obras clássicas produzidas por autoras, como Mary Shelley, e seu drama de terror Frankenstein, Ágatha Christie, com seus misteriosos crimes, além de autoras brasileiras, como Carolina Maria de Jesus, que tratou sobre a temática da miséria, fome e a violência. De fato, as mulheres escrevem e leem romances, assim como os homens leram e escreveram romances, desde a Antiguidade Clássica e o fazem até hoje.
Tendo em vista tais considerações, é preciso que avancemos um pouco mais e façamos uma autocrítica. Quantas autoras foram lidas por mim neste ano? Quando falo de Literatura, quantas mulheres vêm a sua cabeça? Muitas? Poucas? Pensando em uma possível resposta, Juliana Leuenroth propôs o movimento #LeiaMulheres, inspirado na escritora Joanna Walsh, que criou o projeto #readwoman2014. A ideia é que todos nós possamos ler mais escritoras nos mais diversos encontros que ocorrem em livrarias e espaços culturais.
Como se pode ver, a necessidade do reconhecimento da autoria feminina é preeminente, mas não podemos nos esquecer de que esse reconhecimento se faz por meio da luta por direitos iguais, já iniciados pelo movimento feminista e sufragista. Além disso, é preciso compreender que não existe um produto cultural, sobretudo literatura feminina, sem ato político. Caminhemos e ajamos para a mudança desse cenário!